quinta-feira, 9 de janeiro de 2025

3 anos

 V,

Sinto-me uma mãe mais inteira

Depois de três anos voados

Contigo passados

Por entre a alegria e a exaustão que é ser casa, esconderijo e colchão

Sempre contigo pela mão

E tu comigo

Presas pelo umbigo

Até ao infinito

terça-feira, 17 de setembro de 2024

17/09

As vezes pergunto-me se já aconteceu a última vez em que senti a quase faísca de tocar alguém pela primeira vez. De despir alguém sem saber a rotina, de tocar a pele de galinha nuns braços que se vêem nus do que os protegia.

terça-feira, 21 de novembro de 2023

Mãe universal

Sou mãe de uma,

sou mãe de todas

Porque imagino a minha,

em cada uma das outras

O choro da minha,

nas lágrimas das outras

A tristeza da minha,

na miséria das outras

E com isso vem o desejo de ser colo universal

de as salvar de tudo o que as magoe

e do que as faça duvidar da magia que o mundo encerra

quando os homens não se põem a lutar

quarta-feira, 11 de outubro de 2023

11/10/2023

Eu não tenho de olhar para cima quando ouço os aviões

Eu não fico nervosa quando ouço os aviões

Eu não corro quando ouço os aviões

Os aviões passam e eu continuo viva

sábado, 10 de setembro de 2022

A praia

Hoje será, muito provavelmente, o nosso último dia de praia das férias. Escrevo esta frase melancolicamente enquanto imagino a despedida. Costas viradas para o areal longo, o mar bravo espalhando as suas gotículas de sal e os cabelos revoltos, despenteados da brisa salgada.

Despeço-me também do encanto que foi ver a praia através dos olhos dela. A felicidade das coisas simples: a piscina na maré vazia, as pazadas de areia, as sestas debaixo do chapéu enquanto o vento belisca o pano que o tapa.

sexta-feira, 19 de agosto de 2022

9

 9 meses dentro, 9 meses fora, tudo mudou no dia 19.

Há qualquer coisa de mágico neste número que teima em me aparecer. Qualquer coisa ímpar, auto-descritiva. 9.

9 que rima com chove, move, prove, 9 que rima contigo.

Tu que és o fim e o princípio, a mudança irreversível, um ser-se novo que já não se pode não ser. O mergulho mais profundo, o grande teste de paciência.

terça-feira, 24 de maio de 2022

Redenção

 No colo que te dou encontro redenção. 

Expio a culpa que sinto por ser mãe e humana, por não te conseguir abnegadamente amar a todos os momentos. Por cada vez que internamente expludo, farta de te ouvir chorar mais uma vez, cansada de não conseguir terminar uma tarefa do início ao fim, perdida de mim própria pela enésima vez, pego-te ao colo. 

Mesmo que contrariada, mesmo que em silêncio, entorpecida, ou em terramoto por dentro. Pego-te ao colo e tento, devagarinho regular-me a mim ao mesmo tempo que te regulo a ti. E assim ficamos juntas em circuito de regulação, no escuro, abraçadas uma à outra, numa dança tribal mamífera até encontrarmos a calma da qual ambas precisamos.