Deitámo-nos, como em todas as outras noites passadas.Desta vez deixámos as janelas abertas para recebermos toda a melancolia da lua. Apagámos as luzes e, sem nos apercebermos primeiramente o que era, o quarto encheu-se de uma luz azul, assim calma e fantasmagórica. a luz da noite. Saltei da cama, precipitando-me para o parapeito da janela quadrada e sentei-me. Olhei lá para a fora, olhámos, nem te consigo contar o que vi. Sabes quando as únicas coisas que vês são o céu e mar? lá longe passou um navio assim enorme. Gozámos com a situação, dissemos que tinha chaminés iguais às do Titanic. A lua acabava por completar o cenário, presenteando-nos com aquela aura amarela e perfeita. As ondas faziam formas irregulares porque o barco zarpava depressa. Só ouviamos o suave batimento irregular destas. Uma pequena vibração.
- Sabes, apetecia-me mesmo ir lá fora ver isto tudo.
-Vamos?
Vestimos os casacos e de pijama voamos até à parte traseira do barco debruçando-nos nas varandas de madeira polidas e levemente molhadas. Ficámos as três em silêncio. Um silêncio, num momento de contemplação. O cheiro a maresia e as estrelas e as ondas e a lua e o azul e o vento húmido e o horizonte com dois paquetes minúsculos ao longe que se assemelhavam a brilhantes constelações.
Um daqueles momentos perfeitos. Voltámos para o quarto, sentamo-nos à janela. Resta-nos adormecer, a absorver esta dádiva e recordar que temos menos de três horas de sono. Agradeci o facto de ter visão. Há coisas que não se gravam em máquinas. Surpresa, apercebi-me que pensei em ti.
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