segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

My Angel Gabriel

Vamos descendo a rua, devagarinho porque as pernas também já não aguentam muito mais. Vamos descendo. Sinto imenso frio, pudera, tenho tão pouca roupa que devo ter apanhado uma constipação fenomenal mas comparado com o que estava prestes a ver, tudo vale a pena.
Tu não te lembras, de certeza, só querias ir para o carro dormir, não estavas em condições. Contudo, para mim foi um momento daqueles inesquecíveis, que ficam gravados mesmo para sempre e que hei-de relembrar com aquela nostalgia, igual à nostalgia com que os pais falam da adolescência.
São sete da manhã, está na hora de apanhar uma táxi, tenho que ir para casa, estou estafada.Depois do desafio de sairmos do carro, vamos descendo, devagarinho. A calçada alinhada, o branco e o azul com que tantas vezes custumamos brincar. A única parte do corpo que ainda sinto é a minha mão direita que vai dentro do bolso do teu casaco (obrigada!). Paro de repente, que cena!Quase que de um momento para o outro começo a sentir a cidade a acordar. Apesar de esta pouco dormir foi assim quase que um momento pontual. Olho para o horizonte, instantaneamente e vejo o dia a nascer. A escuridão desvanesce-se de um lado e começa a chegar aquela luz alaranjada que tanta paz nos transmite. Vejo nitidamente o contorno dos monumentos e dos prédios antigos em relevo. Respiro todas aquelas sensações.
Temos que descer, apanho um táxi.
Converso com o taxista e digo-lhe que o amanhecer na capital é lindo. Ele responde-me que é a melhor altura do dia, quando não há confusões e podemos aproveitar o esplendor da cidade. Trocamos dois dedos de conversa acerca das noites e perdemo-nos umas dez vezes antes de encontrarmos a rua. São 9,95€ e finalmente chego a casa.
Podre de cansaço deito-me no sofá sem intenção de adormecer, mas sim de contemplar aquela luz, a luz de Lisboa que está a nascer.
Adormeci e lembro-me que, enroscada no quentinho, pensei que tinha deixado a porta destrancada.
Pensei em ti.

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