Dei por mim a achar que conseguia estudar depois do meu cérebro se habituar ao ócio. Olho pela janela e vejo o céu cor-de-laranja. Toco no vidro que gela na minha mão. Está frio lá fora mas eu sinto uma vontade incontrolável de ir para o ponto mais alto da vila e gritar a plenos pulmões. Gritar qualquer coisa, balbuciar sons que me façam esquecer a superficialidade das minhas últimas conversas. Inspirar este ar gélido que parecem facas na garganta. Ficar encarnada e com as bochechas retesadas da temperatura e do frio seco. Emaranhar-me no cheiro a lareira e ver os gatos a comerem os restos do bacalhau da Consoada.
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