sábado, 12 de novembro de 2016

Time

Enquanto olhava em frente, as linhas iam perdendo as suas formas e tudo à minha volta se foi transformando em manchas indistintas.
Na minha cabeça o processo era o contrário. Os pensamentos deixaram de ser confusos e tornaram-se palpáveis, transformando-se em memórias.
Naqueles minutos que pareceram horas, senti o cheiro do mar e o calor da areia quente. Ouvi a voz da minha mãe e tenho a certeza que as mãos da minha avó me tocaram no rosto.
Fui seguindo ao sabor daquilo que o meu cérebro foi criando.
Vi-te por entre os lençóis, dormindo descansado com a boca semi- aberta e tranquilidade no rosto.
Vi o casaco bege do meu avô e fui transportada para o largo da igreja enquanto a madeira ardia.
Emocionei-me ao imaginar o cheiro amadeirado da minha casa e o calor do soalho ao lado do aquecedor.
O toque suave do cobertor de lã.
Quis comer as pipocas doces do cinema e sentir a calçada molhada do passeio da minha rua.

Não saí dali. Mas quando voltei ao presente ainda senti a nortada a desalinhar-me o cabelo.

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