domingo, 27 de julho de 2008

És e sempre serás

Tive vontade de voltar àquela escola, cor de pele, igual a tantas outras no país. E essa vontade foi despertada por ver no nono ano os meninos que eram tão pequenos quando abandonei essa escola. Tenho saudades de conhecer todos os "cantos à casa". Fazem-me falta todos os bocadinhos aproveitados ao sol com um frio que nos fazia tremer ou com aquele calor que nos deixava cheios de vontade de andarmos à luta com garrafas de água cheias a pressa. Nessa escola sabia sempre onde encontrar a minha turma, os meus amigos que na altura pareciam os mais especiais do mundo e com o tempo se foram afastando lentamente, sem magoarem.
Tenho saudades da partilha de trabalhos de casa, de saberes, de saudades e desabafos, no triângulo, as paredes escritas com declarações de muitos amores e os bancos de madeira desviados e quase desfeitos. A sensação de ter sempre companhia nunca a vou voltar a ter. O saber que conhecia alguém de todas as vezes que me sentia sozinha bastava para me fazer companhia. Os namorados, os amigos, as risadas, as faltas e os furos. Tudo único.
Juro que até ouvi a voz rouca e sempre pronta a ralhar da contínua do corredor dos professores " Oh Francisquinha, não podes passar por aí!", ouvir o Sr. João a falar da guerra colonial ou as restantes funcionárias que partilhavam a sua vida e a comparavam às revistas e telenovelas.
Parecia sempre tudo tão simples. Longas tardes deitados no cimento a sentirmos o agradável quente do sol. As caminhadas intermináveis à volta de toda a escola, as conversas postas em dia. O "beijo ou estalo" no relvado ou as partidas de futebol no campo. Todo o tempo que passávamos juntos tinha significado e serviu para que eu nunca me conseguisse esquecer de todos os pormenores importantes que me faziam sentir em casa.
Senti-me envelhecer quando me apercebi que tal como eu, aqueles meninos que andavam no sexto ano também já chegaram ao final de uma fase e acredito que como eu vão sentir aquela mágoa apertada de cada vez que se lembrarem de uma gargalhada inocente, de uma parede escrita ou do movimento constante da nossa escola.

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