Trabalho há três dias, full-time, 10 às 19h, de segunda a sexta. Estou a tirar o mestrado. Estudo à noite três vezes por semana e tenho amigos, namorado e família. Gosto de fazer desporto, gosto de estar em casa a olhar pela janela e a ouvir música, gosto de fumar um cigarro em silêncio sem ter que me justificar, gosto de ver filmes, ir ao cinema, gosto de ver Lisboa ao entardecer num qualquer miradouro, gosto de sair à noite, mexer o esqueleto, gosto de correr na praia, de molhar os pés, de estalar a pele ao sol e gosto de cozinhar para o meu namorado, que me incentiva e admira a ouvir um disco qualquer que nos inspire e nos transporte para outro sítio. Gosto de viajar e de observar tudo o que me rodeia.
Com estes três dias percebi que estes meus pequenos prazeres têm tendência a acabar. Percebi que cada vez exigem mais de nós e cada vez nos dão menos. Percebi que é impossível dividir as várias dimensões da nossa vida e que cada vez a dimensão trabalho é intrusiva nas outras e isso causa desequilíbrio. E para mim palavra desequilíbrio é quase um tabu. É o contrário daquilo que me define.
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