segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

Caminho de Voltar

Vou-te então escrever sobre a minha última viagem, para te tentar explicar que não foi um sonho o que acabou de acontecer.
Na terra dos mil sorrisos, fartei-me de rir contigo. Sentada na mota, com o vento pegajoso a colar-me os cabelos à cara, fui absorvendo cada detalhe do percurso. Vivendo no presente, sem antecipar nenhum momento, nada do que se ia passar, inteiramente entregue à tua escolha e vontade.
Vi as estacas, os tectos de palha, as scooters e senti o cheiro a churrasco. Vi as árvores do pântano e o céu cada vez mais carregado, a orquestrar, a preparar...
Senti cada momento daquela viagem, cada toque acidental do meu peito contra as tuas costas e os arranques inesperados da mota que me obrigavam a agarrar-te e a entrelaçar os meus dedos na tua barriga. 
Impossível é de descrever os mil sabores do caril verde e o coco adocicado do batido de manga. Tu enquadrado na paisagem da ilha que atrás de ti ia escurecendo a pouco e pouco. Os teus lábios.
O vento nas pestanas, a minha cara fria e tudo voando, voando enquanto deslizávamos pela floresta em direcção a outras paragens.
Mostraste-me a praia de noite e entre as ondas que iam e vinham a natureza tratou de nos fazer testemunhas do espectáculo lindo que tinha preparado só para quem estivesse atento: uma trovoada distante, sem som. Uma sucessão de clarões que iluminavam as nuvens como se de uma montagem de luzes se tratasse. Apreciei o nosso silêncio e como me sinto confortável nele. Como é cheio mas tão leve.
Até juntos estivemos nos momentos que nos são alheios. A música alta, a falta de substância e as ruas iluminadas, apinhadas, apinhadas. E até aí encontramos um pequeno recanto para voltarmos a partilhar o que ambos gostamos sentados numa mesa de plástico e banquinhos lado a lado onde eu juro que senti o tempo a parar.
A tua confiança, o teu à vontade e o cheiro que ficou na tua camisa depois desta noite, envolveram-me num abraço cheio de ti. Cheio de nós, no qual eu consegui perceber que também não foram acidentais os teus dedos nas minhas pernas ou a tua mão a procurar-me numa rua movimentada.

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