o que te digo sempre, tu não ouves.

Tenho as tuas cartas guardadas na caixa dos 'ursinhos'. É a caixa onde guardo os significados. Para além de no meu coração, estás guardado na caixa. Todos os significados têm cheiro, todos te têm. És tudo e todas as recordações. Releio mil vezes a tua carta, escrita para mim, uma semana depois do dia dos namorados. Continuo a ficar da mesma maneira que ficava. As tuas palavras simples têm o peso do mundo. E fico depois a sentir-me culpada, pois parece que a minha falta te perseguia e atormentava. Tu eras o meu anjo, que me conheces como ninguém, agora duvidas de tudo o que parta de mim, e tudo o que parte de mim é condenável para ti, anjo superior. acordo com o calor do cansaço, com o barulho da mente que nao descansa por não te ter. O calor do cansaço traduz-se em lágrimas e o barulho da mente numa melancólica agitação. Dou por mim à espera que te materializes de um papel, que grites que me amas e fiques comigo para sempre, tal e qual como nos filmes. Custa-me saber que todos os dias te arrependes de Nós. Arde. Eu acho que tu também te persegues a ti, convences-te que eu não passei da ferida mais aberta. Agora estás aí na redoma, de cristal, altiva e por muito que queira não te consigo chegar. E eu que tenho as palavras na boca presas no grito sufocante da ausência. Só tu é que não percebes. Mesmo preso ao que ouves, não te manifestas. Para ti, não passo de uma ser inanimado. desculpa, " o amor ensinou-me a mentir" para não te despedaçar. Ensinou-me a fugir para não te enfrentar. Despeço-me de todo o meu orgulho, mata-me que tenha ficado sem dignidade, não dás o braço a torcer, não me falas, preferes esquecer. Enquanto isso, eu faço "figas" para que te arrependas. Escrevo para calejar e calar o eco. Como se fossemos serras solitárias murmurando: " Amo-te". A caixa já tem tampa. Arrumo-a.

Hoje passaste por mim.