quarta-feira, 10 de janeiro de 2007

76 anos

Tenho saudades dos vestidos de roda da mesma maneira tenho saudades dos laços enormes que a mãe dava nas fitas de seda. Os vestidos com bordados, comprados pela avo naquela e so naquela loja, os xadreses, as bolinhas e flores. O laço da fita de seda azul, branca, rosa ou amarela. O amor e o gesto. A fita do cabelo a condizer com o laço ou com os sapatos, envernizados com a fivela dourada; rosas amarelos, brancos ou azuis.
A franja direita, um jeito com a escova, pronta. linda, ajeita mais uma vez, perfetia. O alfinete, legado de nascimento, ouro, escrito, o meu pequeno nome; 4 letras apenas. Era tão feio, agora a sua falta faz-me sentir velha. Uma voltinha, UAU, como te fica bem, espectacular. Nao esquecer o chapéu rosa, azul ou amarelo, voltar a compor o cabelo, escovadela na franja, olhos doces de quem se acha princesa, de quem quer ser tudo e nada. De quem quer surpreender e acaba por ser surpeendida. De quem queria ser madrinha de um urso- polar, ou viver feliz na terra de todos os animais, como contava o avô, em paz. maravilhoso. A inconsciencia e inocencia de desconhecer o mundo de sirenes e desgraças. a sorte de nao saber o que é a guerra. De pensar que morrer é ir dar um grande passeio, durante muitos anos. E deixar a caixa de musica a tocar à espera. A melodia. O ritmo sonolento, slow motion. aquela música que antesme acalmava e agora me faz chorar, silenciosamente. Lembram-me bonecas de porcelana, boinas axadrezadas em tons de castanho, bailarinas em pontas dançantes, incessantemente, luvas brancas com um botao branco pequenino, cavalinhos de pau e legos de madeira, beijinhos indespensáveis e arroz de ervilhas ou lulas, narizinhos a espreitar na mesa, passeios no parque e cachorros quentes no pachá, compal de pera, armazem, naftalina e memórias. Vontade de ser criança. Sem Problemas. Chillin'. Tudo.

Sem comentários:

Enviar um comentário