há dias em que sinto vontade de ter uma vida dupla. algo que me distraia deste quotidiano. gostava de ter uma outra identidade diferente, talvez até com outra personalidade e outros gostos. alguém que protagonizasse momentos de insanidade ou de racionalidade extrema. alguém que apreciasse ópera ou hip hop. gostava de possuir todos os diferentes adjectivos: defeitos e qualidades que me tornassem um ser sempre em mutação.
foi quando me apercebi que sentia isto que percebi a heteronímia. não é justo vivermos agarrados ao mesmo "eu" toda vida. mesmo que a minha maneira de ver o mundo mude com a idade e com a experiência, viverei para sempre confinada à minha primeira existência. e isso é uma injustiça profunda.
todos nós devíamos ter o direito a possuir a essência de um qualquer outro.
todos nós deveríamos sentir a necessidade de nos fragmentarmos, de sermos plurais.
o facto de termos que lidar sempre com o nosso âmago, sempre igual mas mesmo assim incompreensível, só faz da existência um tempo ainda mais ingrato para se viver.
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