minha querida:
acho que todos os dias penso em ti. desde que fugiste depois de teres largado a bomba, não sei que sentimentos nutro por ti.
tenho sempre imensa vontade de te escrever. mas a tua solidão assusta-me. cada vez que me escreves fazes-me sentir que és a pessoa mais infeliz do mundo. eu sei que o dever de uma amiga é ajudar. mas eu também já precisei de tanta ajuda, numa altura em que todos desapareceram e ninguém ficou, para me ajudar a suportar a dor. achas que também nunca tive noites de insónia? já tive, e nunca foram muitas. as suficientes para saber que não é um fenómeno normal e que não conseguir dormir é uma defesa, mas também um tormento que nos aproxima de tudo o que nos magoa.
houve uma altura em que achava que o "amor incondicional" existia e sabia e jurava com toda a certeza que nada, nada, nada nos afastaria. agora não te asseguro nada. desde agosto que prometi a mim mesma libertar-me de uma série de teias que me mantinham. talvez tenha tecido outras mas até agora ainda não me arrependi.
não sei se alguma vez sentiste a sensação de solidão verdadeira. aquela em que só estás tu e o silêncio e, por vezes, algumas lágrimas, lágrimas de tristeza, de medo e raiva. as lágrimas que nos fazem sentir vivos, aquelas que nos asseguram que o sofrimento existe. eu já senti isso. não sei se a culpa é da tal ínsula que te mantem viciada no teu próprio sofrimento mas a minha ínsula faz-me ser viciada em boa disposição. faz-me ter força para enfrentar um dia após o outro. e faz-me viver e sentir-me viva.
tu foste o meu porto de abrigo, e um porto de abrigo não se destrói de um dia para o outro. abriga-nos, sempre. e quando falha o abrigo, pelo menos não desaparece.
eu não sei, quando estiver contigo não sei o que te vou dizer. nunca foste muito dada às palavras. aquilo que sentes raramente dizes. aliás, eu nunca te conheci. e provavelmente essa foi a maior traição. cada vez que penso nisso imagino uma sucessão de mentiras e chantagens, incontroláveis.
nunca desistas de viver, agarra-te pelo menos à crença que tens que ter em ti própria, valoriza-te, ajuda o mundo. não vivas fechada em ti, num vazio que te deprime a cada dia que passa.
só gostava que tivesses estado aqui, depois, para me pedires desculpa. agora não sei se quero ouvir, não sei se me deva conceder a esse luxo. já nem sei se vale a pena depois de tudo o que batalhei para conseguir deixar ir.
sinceramente não sei se estou melhor assim, há muito tempo que não falo comigo mesma. somente sei que não quero repetir a experiência, não quero ver a cena a decorrer na minha cabeça uma e outra vez.
acho que sou feliz, mas também prefiro não pensar muito nisso.
vê se encontras o teu caminho.
qualquer coisa
hoje e sempre,
s
acho que todos os dias penso em ti. desde que fugiste depois de teres largado a bomba, não sei que sentimentos nutro por ti.
tenho sempre imensa vontade de te escrever. mas a tua solidão assusta-me. cada vez que me escreves fazes-me sentir que és a pessoa mais infeliz do mundo. eu sei que o dever de uma amiga é ajudar. mas eu também já precisei de tanta ajuda, numa altura em que todos desapareceram e ninguém ficou, para me ajudar a suportar a dor. achas que também nunca tive noites de insónia? já tive, e nunca foram muitas. as suficientes para saber que não é um fenómeno normal e que não conseguir dormir é uma defesa, mas também um tormento que nos aproxima de tudo o que nos magoa.
houve uma altura em que achava que o "amor incondicional" existia e sabia e jurava com toda a certeza que nada, nada, nada nos afastaria. agora não te asseguro nada. desde agosto que prometi a mim mesma libertar-me de uma série de teias que me mantinham. talvez tenha tecido outras mas até agora ainda não me arrependi.
não sei se alguma vez sentiste a sensação de solidão verdadeira. aquela em que só estás tu e o silêncio e, por vezes, algumas lágrimas, lágrimas de tristeza, de medo e raiva. as lágrimas que nos fazem sentir vivos, aquelas que nos asseguram que o sofrimento existe. eu já senti isso. não sei se a culpa é da tal ínsula que te mantem viciada no teu próprio sofrimento mas a minha ínsula faz-me ser viciada em boa disposição. faz-me ter força para enfrentar um dia após o outro. e faz-me viver e sentir-me viva.
tu foste o meu porto de abrigo, e um porto de abrigo não se destrói de um dia para o outro. abriga-nos, sempre. e quando falha o abrigo, pelo menos não desaparece.
eu não sei, quando estiver contigo não sei o que te vou dizer. nunca foste muito dada às palavras. aquilo que sentes raramente dizes. aliás, eu nunca te conheci. e provavelmente essa foi a maior traição. cada vez que penso nisso imagino uma sucessão de mentiras e chantagens, incontroláveis.
nunca desistas de viver, agarra-te pelo menos à crença que tens que ter em ti própria, valoriza-te, ajuda o mundo. não vivas fechada em ti, num vazio que te deprime a cada dia que passa.
só gostava que tivesses estado aqui, depois, para me pedires desculpa. agora não sei se quero ouvir, não sei se me deva conceder a esse luxo. já nem sei se vale a pena depois de tudo o que batalhei para conseguir deixar ir.
sinceramente não sei se estou melhor assim, há muito tempo que não falo comigo mesma. somente sei que não quero repetir a experiência, não quero ver a cena a decorrer na minha cabeça uma e outra vez.
acho que sou feliz, mas também prefiro não pensar muito nisso.
vê se encontras o teu caminho.
qualquer coisa
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